O QUE VILA DO CONDE PERDEU
Aqui vão trechos de antiga data, a lembrar património que
Vila do Conde tinha e já não tem – não por culpa do progresso mas por incúria
dos homens.
1. O ARCO DE FIGURA TRIANGULAR
Houve nesta Vila um arco de pedra de cantaria florado com
três cruzes ornadas de lises, que era de figura triangular, e seria elevado
sobre um pedestal de pedra lavrada já com o lavor gasto ou inscrição que tinha,
e esta base se firmava sobre uma penha alta, virada ao meio dia, tudo disposto
em um sítio eminente: e a este arco, ou figura chamavam os antigos Vila do
Conde.
Memórias Paroquiais, ano de 1758.
2. O NICHO DO SENHOR DAS PAUTAS
A passagem sobre o Ave, entre esta Vila e a margem oposta,
era feita por uma ponte de madeira que se construiu depois que desabou a grande
ponte de pedra. Anteriormente (...) era feita por uma barca... Junto do Cais
das Lavandeiras ou do lajedo onde abicava a dita barca, do lado da Vila, estava
um nicho com a imagem do Redentor, denominado Nicho do Senhor das Pautas,
porque nas costas daquele nicho costumavam afixar-se as pautas com os preços e
regulamentos da passagem.
A Razão, 12 de Junho de 1901.
3. A FONTE DA VILA
... a fonte da Vila que existia já no século XVI, próxima da
actual rua de D. Luiz e abaixo da capela de Santo Amaro (...) e que foi mudada
para outro local na mesma rua de D. Luiz, recolhendo-se a sua pedra d’armas num
dos armazéns do extinto hospício do Carmo, onde ainda se conserva.
Commercio de Villa do Conde, 29 de Dezembro de 1907.
4. O HOTEL DA TERESINHA
Quanto a hotéis, também Vila do Conde os tem em condições
muito superiores aos das demais terras d’esta ordem. Entre estes, destaca-se o Hotel Central (...) instalado
n’um prédio, expressamente construído para esse fim, recebendo hóspedes tanto
na quadra balnear, como durante todo o ano.(...) A sua situação, num local dos
mais centrais da Vila, passando-lhe em frente a linha americana (...)
assegura-lhe o poder ser frequentado tanto pelas pessoas que aqui tenham de vir
fazer uso de banhos do mar, como por aquelas que aqui venham a passeio ou a
tratar de negócios.
Commercio de Villa do Conde, 18 de Agosto de 1907.
5. A CAPELA DE S. TIAGO
A Capela de S. Tiago há tradição que foi Igreja Matriz, está
situada na margem do rio, no vasto areal que a cerca pela parte do mar, é de
administração pública e particular da Câmara, que preside na festa do mesmo
Santo; e ainda nela se conservam usos que persuadem o sobredito, como são ir a
ela a Procissão das Ladainhas, e na missa do dia exercitarem os párocos o seu múnus,
como na Matriz, como são publicações de banhos e mais exortações públicas...
Memórias Paroquiais, ano de 1758.
6. O TEATRO AFONSO SANCHES
O edifício situado na rua de Bento de Freitas, tanto interna
como externamente, está com todas as condições, e como teatro de província pode
rivalizar ou exceder os melhores. (...) O Teatro é elegante, todo levantado em
colunas, estando muito bem pintado, vendo-se no tecto pinturas alegóricas. É
iluminado a acetilene, produzindo o conjunto um belo efeito. Tem bastantes
portas e janelas, e à frente um vasto e elegante salão. (...) Artistas e
companhias dos nossos primeiros teatros de Lisboa e e Porto têm vindo a esta
Vila representar neste Teatro, e têm sido unânimes em elogiá-lo.
Commercio de Villa do Conde, 31 de Março de 1907.
7. FESTAS DO CARMO
Nos últimos anos têm estas festas sido feitas com
extraordinário brilho e grandeza... Se, nos anos transactos, as Festas em honra
da Virgem do Carmo foram feitas com muito esplendor e luzimento, no ano
corrente, em que estão a cargo do Club Fluvial, florescente associação
recreativa desta Vila, já se espera que elas excedam muito as dos anos
anteriores, pois só as iluminações contratadas custam algumas centenas de mil
réis, e têm de abranger todo o Largo do Carmo, Largo d’Alfândega, Cais das
Lavandeiras, Praça Hintze Ribeiro, Rua de D. Luiz, Travessa de S. João e Rua de
S. Bento, abrangendo ainda uma grande área da Vila. Além disso, a Procissão
há-de revestir grande aparato, e a Regata e outros divertimentos projectados,
serão abrilhantados com bandas de música...
Commercio de Villa do Conde, 24 de Maio de 1908.
8. O SENHOR DOS BEM GUIADOS
Illustração Villacondense, Outubro de 1911.
8. O SENHOR DOS BEM GUIADOS
Outrora (...) a única via de comunicação que havia entre Vila do Conde e a Póvoa de Varzim, era a estrada velha que, passando da Rua de Santa Luzia de Vila do Conde, ia entrar e terminar na Póvoa, pela extensa Rua dos Ferreiros... Aqui, em Vila do Conde, a distância de alguns metros das últimas casas da Rua da Santa Luzia, para Norte, na mesma antiga estrada, ainda hoje se encontra os Senhor dos Bem Guiados, que consta do vulgar nicho das Almas, precedido de escadório singelo e já algum tanto gasto pelo atrito dos pés, abrigado por um alpendre que assenta sobre quatro pilares, tendo do pilar do lado Sul, na frente, pendente de ferros, a lanterna que a crença dos devotos conserva acesa todas as noites.
Illustração Villacondense, Outubro de 1911.
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